segunda-feira, julho 11, 2011

Mineras do corpo

Dr.  Jorge Boucinhas [ médico e professor da UFRN ]

Quase todos dentre as dezenas de elementos químicos existentes são encontráveis no corpo humano. Tal não surpreende quando se considera o processo evolutivo, de vez que existe uma correlação entre a concentração dos elementos químicos presentes na água do mar e no corpo humano. Não obstante somente da metade deles conhece-se uma função biológica bem definida.  

Os cinco que constituem a maior parte da matéria viva (carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre) afora os denominados "macrominerais" (cálcio, magnésio, fósforo, sódio, potássio e cloro) estão presentes em quantidades da ordem de gramas por quilo de peso corporal e são necessários na alimentação diária em quantidades ponderáveis. Os chamados "elementos-traço" são encontrados em baixos teores, da ordem de miligramas ou, mesmo, microgramas por quilo de peso.  Certos elementos químicos tidos por não essenciais, quais o bromo e o rubídio, ocorrem nos tecidos humanos em concentrações acima dessas.

É interessante comparar os efeitos bioquímicos dos elementos considerados essenciais com os dos tóxicos, segundo as concentrações. Para cada um dos primeiros existe uma estreita faixa de concentração para a manutenção da vida. Abaixo dele ocorre a deficiência, acima ocorre a intoxicação. Ademais, alguns elementos tóxicos podem ser ingeridos em baixas concentrações como medicamentos e podem ter efeitos benéficos, e os limites tornam-se ainda mais fluidos quando se considera que muitos elementos dantes considerados tóxicos agora verificou-se serem essenciais. No caso do selênio a deficiência é um problema mais grave do que a toxidez. O cromo e o arsênio (conhecidos venenos) têm funções capitais. Outros elementos atualmente considerados tóxicos (e alguns ora considerados inócuos) poderão ser tidos como essenciais futuramente.  Hoje já há 16 descobertos como essenciais e outros 18 (aqui incluídos a prata, o ouro e o mercúrio) ainda recebendo estudos especiais.

Os "elementos-traço" agem principalmente em sistemas enzimáticos. O zinco, por exemplo, está presente em cerca de 160 enzimas, que têm diferentes funções, e são conhecidas 4 enzimas com molibdênio e 1 com selênio.    Todas controlam grandes quantidades de substâncias chamadas "substratos", as quais podem ter importantes funções reguladoras no corpo humano. 

A descoberta de tais funções foi gradativa. Sabe-se que o ferro é essencial desde meados do século XVII, sendo que o iodo teve as funções descobertas em 1850 e o cobre em 1928.  Descobriu-se que o manganês, o zinco e o cobalto eram essenciais em 1931. Molibdênio, selênio e cromo foram assim considerados a partir de 1953. Estanho, vanádio, flúor e silício foram tidos por essenciais em 1970, e níquel e arsênio em 1974. 

As deficiências em elementos-traços que ocorrem em algumas regiões do mundo são muito bem conhecidas. A falta de ferro, que provoca a anemia, é a mais comum e está presente em 9 entre 10 mulheres de algumas localidades. A deficiência de iodo, que causa o bócio endêmico, foi identificada há mais de 100 anos.  A de zinco, que leva a retardamento no crescimento das pessoas, foi descoberta muito depois.  A falta de selênio está associada à cardiomiopatia e à maior incidência de alguns tipos de câncer. Já a falta de flúor contribui para a ocorrência de problemas dentários.

Exemplificação de alguns minerais úteis à pele quanto às quantidades existentes no corpo humano, recomendações diárias e funções mais importantes: 

Silício: 2 a 3 gramas no corpo, usualmente não é calculado em dietas; tem funções na calcificação e estruturação do tecido conectivo, pelo que muito se o emprega na melhora da qualidade da pele.

Manganês: 1 grama no corpo, sendo recomendados por dia 2,5 a 5 mg; está presente em enzimas e é importante para a síntese do tecido conjuntivo.

Zinco: no corpo humano há 2 a 3 gramas, sendo diariamente recomendados 15 mg; participa em mais de 160 enzimas e age na síntese de ácidos nucléicos e proteínas; importante no sistema imunológico; sua falta de causa doenças genéticas, retardo no crescimento e no amadurecimento sexual, depressão, queda de cabelo e lesões de pele.

Iodo: 11 miligramas no corpo, principalmente na tiróide, sendo recomendados 150 microgramas ao dia; capital para a síntese do hormônios tireoideanos, sua deficiência causando o bócio endêmico ("papo") e pele seca e áspera. 

Selênio: quantidade presente no corpo humano de 6 a 12 mg; quantidade diária recomendada: 50 a 200 microgramas; funções antioxidantes, sua falta provoca cardiopatia e fraqueza muscular.

Associados melhoram muito a qualidade da cútis.

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